Uma história Infantil
O Bacalhau Friorento
Nas frias águas da Noruega nadava um cardume de bacalhaus. D’ entre todos a lutar pela sobrevivência, o bacalhau Alberich, era o mais desconsolado. A vida era dura, complicada. Ele não gostava nada de ter nascido peixe! Ambicionava ter nascido uma árvore de ramos frondosos, ou uma flor dum país tropical. Algo mais afortunado, que um bacalhau! Tudo por ter frio naquela água gelada. A extremidade das suas barbatanas ficava roxa e enquanto outros fugiam, mal avistavam os barcos para a captura, ele nadava por ali. Fazia tudo para ser pescado. Os irmãos chamavam-lhe louco. Explicavam-lhe que cair nas redes era terrível. O destino de pescados, era muito mau. Matavam-no, salgavam-no, conservavam-no. Por fim comiam-no. Especialmente os portugueses. Adoravam levar bacalhau para servir à mesa na noite de Natal. Chamavam-lhe, Rei da festa. Fizeram-na bonita! Alberich em vez de se encolher, ficou todo contente. Tinha de ser pescado! Acreditava que se depois de morrer, podia ver aquela festa toda e sentir calor… Era bom! Tinha que haver mais que esta vida! Então respondia-lhes que Deus depois de eles morrerem, lhes daria um sítio quente e bonito para ficarem. Não aquele escuro e frio do mar onde moravam. Os outros deixavam-no a falar sozinho. Ele não se importou, e quando os barcos vieram nadou, nadou! Bateu com a cauda, fez tanto alarido que foi pescado. Ficou contente, por um bocado, dentro do barco onde estava quentinho. Havia mais como ele, mas… Era mesmo verdade! Então, muito aflito, naquele minuto de aperto, antes de chegar a sua vez, Alberich rezou. Rezou muito para haver um milagre, se é que um peixe sabe rezar, pois nunca ouvira falar de outro que o fizesse, ou lhe tinham ensinado.
Pediu ao menino Jesus, de quem já ouvira histórias, que o deixasse ver a luz. Sentir o calor. Ouvir as conversas da família, a fazerem-lhe elogios à roda da mesa de natal. E não é que o menino lhe deu essa alegria! Foi servido na mesa, como o Rei da festa. Convidado de honra. E mal estava prestes a ser comido, Jesus apareceu em pessoa e levou-o consigo para conhecer um lugar melhor, onde fazia quentinho. Havia sempre festa, luz e conforto. Foi aí que compreendeu que para o Deus menino, não importa se, se é bacalhau, ou não. Todos temos direito a um lugar para onde vamos. Onde somos felizes e vimos todos aqueles que já partiram, há muito. Nos esperam de braços abertos.
Maria de Fátima Soares