A Transitória Beleza de Ser - por Lígia Beltrão

A Transitória Beleza de Ser - por Lígia Beltrão

A Transitória Beleza de Ser

 

       Eu a olhava alí, tão delicada e simples, mas de uma beleza inexplicável. Seus reflexos de luz davam-lhe a dimensão exata da sua grandiosidade. Passa despercebida por alguns. É contemplação para mim. Era tão pequena e insignificante para a maioria. Ninguém parava para observá-la. Logo sua vida secaria para sempre e quem se daria conta da sua ausência? Milhares surgiriam para ocupar o seu lugar. Parecidas, diferentes, maiores, mais belas, mais brilhantes, mais simples... Mas sei que, já há tantas espalhadas e enfeitando o grande mundo. Ela sente-se, apesar de tudo, poderosa. Ao menos por instantes impera na sua majestosa travessia do tempo. É assim que a vejo.

       Alguém lhe deu vida, mesmo que vazia e por poucos momentos. Algo lhe faz deslumbrante aos olhos de quem sabe ver a pureza do seu estado, e o sol dá-lhe a magnitude de que precisa para ser bela naquele momento. Cores múltiplas refletem na translucidez do seu eu. Ela dança ritmadamente ao som do vento cumprindo o seu papel no mundo, de poder maior, esquecendo a sua fragilidade e a sua transitoriedade. Quero dar àquele instante a perpetuidade de ser.  Encanto-me!

       Tenho nos lábios o riso ingênuo e puro de quem descobre o tesouro do existir. O silêncio marca aquele momento de descobertas. Há em mim, sentimentos que nenhuma palavra consegue expressar. Celebro a quietude dela, ali brilhante, e o sossego que vem de dentro do meu eu, que sou feita de arroubos, mas que paro para contemplar a pacatez do sagrado. Aos arrancos de leveza ela sobe majestosa sem necessidade de asas. Desliza pelos ares. Fico em duradoura vigilância. Registro no imo de mim as sensações que desencadeiam meus sentimentos. Ficarão para sempre, pois não abrirei mão da minha descoberta. Meus olhos enxergam agora a grandeza da transfiguração.

       Que o meu sonho vença a inexcedível concretude, ainda que por instantes. Viro poeta. Transmuto a realidade. Mistifico-a. ainda que só no imaginário. Espero o final.

Recordo os versos de Manuel Bandeira quando diz: “continuei esperando a morte para qualquer momento, vivendo sempre como que provisoriamente”.

      E assim é a realidade da vida de tudo e de todos. Vivemos provisoriamente. O eterno está dentro de nós, até que nos falta o ar. De repente no silencio do espaço ela arrebenta-se. Sem dor. Sem barulho. Sem nada. Evapora-se. Procuro algum resquício do que fora, mas nada mais existe. Fiquei ali, no intransitivo do tempo. A vida acabou.

       Deu-me uma vontade de fazer como em criança, e outra vez ver a vida acontecer através de um canudo mergulhado num copo de água com detergente, a espalhar as translúcidas bolinhas de sabão no ar. Levitando a perderem-se de vista. Beleza rara que poucos param para admirar no contexto maior. São só umas bolinhas de sabão – dizem todos -. Para o meu coração, porém, é a mistificação da transitoriedade do viver. Exorbitâncias ininteligíveis.

 

 

 

 

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