Criança, eu? - por Francilangela Clarindo

Criança, eu?

          Lá pelos nove anos comecei a olhar diferente para os meninos. Muito tímida e acanhada, somente olhava, sem maiores conotações.
          Havia uns cinco meninos interessantes. Sempre que os via meu coração batia (se não, eu o fazia bater. Afinal, eram as minhas emoções e eu achava o máximo, mesmo sem ser). 
          E era tão engraçado o jeito que eu saía de casa. Vestia um short jeans, uma camiseta e me olhava tanto, achava que estava maravilhosa com aquele look que, com certeza, faria os meninos vibrarem com minha presença. (Pense só que eu me achava uma diva, linda, irresistível naquela roupinha provocativa. Ai, ai, ai...)
          Então, de roupinha transada, lá ía para fora brincar. 
          Sabe que quando eu era criança, há bons vinte e cinco anos, era bem diferente de hoje o jeito de ser criança e de se ter dez anos. (Já havia completado dez anos na época do shortinho)
          Todas as noites a rua se enchia da criançada brincando de carimba, partir o bolo, roda (que incluía atirei o pau no gato, ciranda, cirandinha, a linda rosa junenil, fui à espanha entre outras), céu e inferno (por aí dizem amarelinha), cai no poço (as mocinhas amavam esta brincadeira e também a do jogo da verdade. Assanhadas!
          O momento mais esperado do dia, depois do Sítio do Picapau Amarelo, era a hora de se encontrar com as amigas para brincar. Às vezes, íamos uma para a casa da outra, o que também era muito bom.
          De vez em quando reclamávamos quando uma mãe era chata e não deixava que sua filha saísse com a gente porque estava doente, não tinha estudado ou coisas do tipo. (De jeito nenhum entendíamos os cuidados que uma mãe tem que ter com a saúde e segurança dos seus filhos. Queríamos brincar e pronto. O resto nos deixava furiosas.)
          E entre brincadeiras de correr, ensinar e perguntar, conversávamos muito, respondíamos disparates e queríamos saber coisas de gente grande (imaginem só sobre o que estas conversas versavam). Era o assunto do momento. Quem já tinha beijado, quem já tinha namorado, como seria o primeiro beijo, quem já tinha respondido tal e tal disparate e coisas tipo assim que nos rendia boa parte do tempo. Era uma curiosidade sem fim. 
           De vez em quando uma treinava no joelho como seria o primeiro beijo. Claro que uma era bem diferente da outra. Havia as mais saídinhas e as lesadas. (Em que time eu estava? Mas você é muito curiosa. Leia e tire suas próprias conclusões.)
           Quando nos reuníamos no quarto era para rir muito de tudo que falávamos e imaginávamos.
           Era muito divertido ser criança e sonhar. Tudo era tão singelo, doce, meigo, infantil, pueril, inocente. Achávamos um escândalo o que hoje podemos considerar fichinas. Bons tempos aqueles que não voltam mais.
           Onde estará a inocência de nossas crianças hoje? Já nascem com um certo tom de malícia, sabem o que nem sonhamos saberem e agem como verdadeiras adultas em miniatura.

Francilangela Clarindo

 

Fragmento do livro: "Socorro, meu príncipe virou sapo" de Francilangela Clarindo

Á venda na Editora Multifoco e na Livraria da Travessa.

 

Publicado em 04/03/2014

 

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