DANÇARINA
Ela era jovem, não tinha traços de beleza, era comum, incapaz de despertar desejo nos homens, muito menos raiva nas mulheres.
Pobre, morava num casebre construído geminado com os muros do cemitério da cidade, onde morava com sua velha e mal humorada mãe, que nunca sorria, e sempre resmungava, a velha reclamava o tempo todo, Maria não ligava, gostava de flores, isso bastava.
A velha rabugenta sempre reclamando dizia que Maria era tola, devia ser fraca da cabeça, viver sorrindo e cantarolando todos os dias, quando suas vidas miseráveis eram um tormento.
Maria não ligava gostava de flores, e de dançar. Elas não tinham um jardim onde Maria pudesse plantar suas flores, não era problema, ela plantava suas flores no cemitério, lá era tão lindo e calmo, pela manhã, o sol morno, as nuvens fofas e pesadas, faziam Maria sentir vontade de plantar suas pequenas flores, e lá ia ela, adentrando os portões, os coveiros não ligavam, ela era uma boa moça, até arrumavam sementes ou mudas de flores pra que ela pudesse plantar.
Lá pela hora do almoço ela voltava para junto da velha, e parecia sempre estar sonhando, ou divagando, aquilo deixava sua mãe tão brava.
Quando a noite chegava, o crepúsculo trazia os tons arroxeados ao céu, Maria sentia-se inquieta, e arrumava sempre um pretexto para sair.
-Volto já mãe, e deixava e mulher com seus resmungos, sem se importar.
Ela voltava para o cemitério, caminhava sem rumo, até que decidisse em qual das sepulturas pararia, ela não escolhia, os mortos é que a chamavam, então ela tirava seus sapatos surrados, pedia licença ao eterno morador, e delicadamente subia nas pedras geladas e começava a dançar, todos as noites, dançava para os mortos, leve como um anjo, gostava disso, ali ela era livre, ninguém a repreenderia por sonhar, seus expectadores eram os mais compenetrados admiradores fiéis adoradores da sua alegria.
Maria dançava para os mortos.
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