Divagação - por Ligia Beltrão

Divagação - por Ligia Beltrão

Divagação

 

Estou um pouco cansada e tento ouvir uma música. Quero relaxar. Fecho os olhos na esperança de que me invada a paz ansiada e possa descansar da correria do dia nebuloso. Meus pensamentos correm numa velocidade assustadora e ganham o mundo oprimido de conceitos e preceitos, os quais já não consigo entender. As pessoas correm numa gana desenfreada para conquistarem coisas que nem são tão importantes, mas a sociedade que emerge de um caos urbano, que os dias atuais nos obrigam a viver, exige que tenhamos sempre o melhor e cada vez mais.

 

O ato de pensar se afasta das pessoas, cada vez mais rápido, fazendo destas, figuras sem intelecto e sem vontade própria. Pois a publicidade que se expande despudorada em todas as esquinas da vida, levam-nos a querer até mesmo o impossível. Somos fantoches nas mãos dos que sabem usar o poder de influência, para nos tornar cada vez mais indignos conosco e com o nosso próximo. O capitalismo avança cruelmente sobre as pessoas e o ter é muito mais importante que o ser. Este está fora de cogitação.

 

A juventude angustiada, em sua maioria, se enreda pelos caminhos em altos decibéis, perdidos na eloquência da modernidade assustadora e da falta de parâmetros que se lhes dê algum sentido e um futuro promissor. A poesia da vida escapa-lhes por entre os dedos, como água a escorrer e esvair-se no chão concretado. Recuo diante da multidão embotada por princípios distorcidos. Sinto receios do amanhã incerto e das almas perdidas no vácuo da ignorância, mas que se acham portadoras da salvação do mundo.

 

As vidas de nada mais valem e são ceifadas como se estivessem podando uma planta, cujos galhos incomodam de alguma forma. Não importa as consequências do ato e do que se deixa para trás em dor e necessidade. Em carências materiais e principalmente afetivas. A penúria moral se acentua cada vez mais. O mal é banalizado. O homem já não sabe que rumo tomar e nem sei se ele sabe o que ainda é. Deveria ser humano. A multidão ensandecida tem gana por justiça, mas feita com as próprias mãos. Ela quer cada vez mais. Os sorrisos são ríspidos. Os olhos ávidos pelas luzes de vitrines e grandes prédios tapando o sol, que procura uma fresta para alumiar um mundo de hipocrisias e de mesmices.

 

O por do sol parece chorar quando o dia se finda. As lembranças estão em extinção. O amor perece, também. Acho que é justamente a falta deste, que está fazendo este mundo chorar mais do que sorrir. Esquecemos como se der as mãos numa roda e cantar lindas cantigas. Faltam abraços no mundo. Faltam risos e alegrias verdadeiros, que não são comprados nas lojas. Infelizmente. A música termina e abro os olhos para espiar entre as frestas de mim mesma. Sou mais um grito calado na multidão ambulante, que não sabe para onde vai e muito menos aonde chegará. Tomara, não seja na extinção de si mesmo. Já que os sentimentos há muito estão se extinguindo no homem, que morre sozinho, melancólico e vazio. E o triste de tudo não é morrer, mas morrer o que há de grandioso dentro de nós. Os bons sentimentos.

 

Lígia Beltrão

 

 

 

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