Gilberto Freyre - por Eduardo Garcia

Sociólogo, antropólogo, historiador social, escritor, Gilberto Freyre (1900-1987), além de autor de uma vasta obra científica e literária, também foi um criador de instituições, a exemplo da própria Fundação Joaquim Nabuco, do Seminário de Tropicologia e da Fundação Gilberto Freyre.

 

Poesias

 

 

 

Silêncio em Apipucos

As mangueiras
o telhado velho
o pátio branco
as sombras da tarde cansada
até o fantasma da judia rica
tudo esta à espera do romance começado

um dia sobre os tijolos soltos
a cadeira de balanço será o principal ruído
as mangueiras
o telhado
o pátio
as sombras
o fantasma da moça
tudo ouvirá em silêncio o ruído pequeno.

 

 

Menino de Engenho

O menino de engenho era decerto
criatura menos sacrificada à gravidade
de trajo e vida que o nascido nas cidades.
Nas almanjarras,
com os moleques
seus camaradas
leva-pancadas
brincava de carrossel
um carrossel
a que servia
de caixa de música
e cantiga do tangedor.

Montava a cavalo
saía pelo mato
com o moleque
a pegar curiós.

No tempo de cana madura
chupava com delícia os rolêtes
que lhe torneavam a faca
os negros do engenho.

Gostava de fazer navegar
na água das levadas
em navios de papel
moscas e grilos
personagens dos romances de aventura
que inventava
antes de conhecer negras nuas
e viver seus primeiros romances de amor.

 

Fonte Fundação Joaquim Nabuco 

https://www.fundaj.gov.br/

 

O outro Brasil que vem aí

 

Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.
Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.

Jornal de Poesia

https://www.jornaldepoesia.jor.br/gilfreire.html#outro


Gilberto Freyre escreveu sobre si mesmo e através dos primeiros registros documentais de que temos conhecimento — desenhos, trabalhos escolares e artigos de jornais, ele apontava já o seu estilo literário e o seu pensamento intelectual.
Foi Aníbal Fernandes quem o introduziu na grande imprensa pernambucana, ao publicar no jornal A Ordem, em 1917, um artigo de sua autoria.
No  Diario de Pernambuco, uma série de artigos intitulados Da outra América, as impressões do viver cotidiano de 1918 a 1922 no Recife, quando se encontrava na América do Norte, onde fora estudar. Logo uma série de Artigos Numerados, publicados semanalmente também no Diario, entre 22 de abril de 1923 e 15 de abril de 1925, quando já havia voltado ao Estado.
Freyre não mais parou de escrever para os jornais, uma relação de artigos divulgados em periódicos do Brasil e da Argentina, estão no trabalho das bibliotecárias Lúcia Gaspar e Virgínia Barbosa, “Gilberto Freyre, jornalista: uma bibliografia”. São 3.420 registros, datados de 1918 a 1987, extraídos da Biblioteca Central Blanche Knopf, (Documentação da Fundação Joaquim Nabuco). A base de dados Freyre originou-se de pesquisa idealizada por Manuel Correia de Andrade, quando diretor do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira, e soma, atualmente, 9.864 registros, contendo documentos existentes nos acervo da Fundação Joaquim Nabuco e da Fundação Gilberto Freyre, no período de 1917 a 2009.

Fontes de pesquisa

Jornal de Poesia

https://www.jornaldepoesia.jor.br/gilfreire.html#outro

Fundação Joaquim Nabuco 

https://www.fundaj.gov.br/

 

 

Pesquisa e comentários

LUIS EDUARDO GARCIA AGUIAR

publicado em 09/02/2014

 

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