Joaquim Cardozo - O engenheiro que sonhou Recife e Olinda calculou Brasília - por Eduardo Garcia

Joaquim Cardozo - O engenheiro que sonhou Recife e Olinda calculou Brasília - por Eduardo Garcia

Joaquim Cardozo


 

O engenheiro que sonhou Recife e Olinda calculou Brasília

A poesia concreta de Joaquim Cardozo

Homem de formação renascentista viveu o Modernismo


Joaquim Cardozo. Poeta, dramaturgo, engenheiro calculista. Nasceu no Recife em 26 de agosto de 1897. Grande estudioso e conhecedor da matemática. em cujo domínio penetrou com grande sensibilidade poética, inovou os métodos tradicionais do cálculo estrutural. Viabilizou, assim, a execução de obras complexas da arquitetura moderna, como as de Oscar Niemeyer. Calculou, para o arquiteto, as obras do Conjunto Pampulha, em Minas e, em Brasília, o Palácio da Alvorada, a Catedral, a cúpula do Congresso Nacional e o Itamarati, entre outras.

Publicou os seguintes livros: Poemas (1947); Pequena antologia pernambucana (1948); Signo Estrelado (1960); Coronel de Macambira (1963); De uma noite de festa (1971); Poesias Completas (1971); Os  anjos   e   os   demônios   de     Deus

(1973); O capataz de Salema, Antonio   Conselheiro,  Marechal,  boi   de      carro (1975); O interior da matéria (1976); Um livro  aceso e  nove  canções    sombrias (1981, póstumo).

Faleceu em Olinda em 4 de novembro de 1978.

 

                                                                                                 Fonte

                                                                        Maria da Paz R. Dantas

  https://www.jornaldepoesia.jor.br/jcardoso.html#bio

 

Filho de José Antônio Cardozo, guarda-livros e dona Elvira Moreira Cardozo, ambos pernambucanos, nasceu Joaquim (Maria Moreira) Cardozo num bairro do Recife, o Zumbi, no dia 26 de agosto de 1897.

Suas primeiras leituras lhe vieram por influência do irmão mais velho, poeta parnasiano, falecido aos 23 anos, com um livro por publicar. Era esse irmão que o ajudava nos estudos, tendo-o preparado para fazer o exame no ginásio. Lia muito na sua biblioteca, e entrou em contato com Eça de Queiroz, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira. Mais tarde, na Biblioteca Pública, conheceria outros autores, entre eles

Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Franklin Távora.

Fundou um jornal literário – O Arrabalde, com Benedito e Honório Monteiro, onde residiam, em Tejipió, escrevia trabalhos sobre astronomia... O Rapaz também se interessava por desenho e caricatura. Em 1914 publicou algumas charges políticas no Diário de Pernambuco. o mesmo acontecendo com o Diário da Tarde, edição vespertina daquele jornal. Neste último, também publicaria artigos sobre a situação internacional. Enquanto isso escrevia, secretamente, sonetos parnasianos.

Em 1915, já residia no Recife, entrou na Faculdade de Engenharia, fazendo o exame de matemática, orientado pelo seu mestre e amigo: Luis Ribeiro.

Em 1923 Joaquim Rego Monteiro passou uma temporada no Recife, e nessa época Cardozo o conheceu e a ele se ligou.

Pouco a pouco, o poeta foi se aproximando de outros modernistas – José Vasconcelos, Otávio Malta. Em 1934, Vasconcelos publicou no Jornal do Commercio um artigo sobre o modernismo, onde inseria um poema de Cardozo – o “Recife Morto”. Nessa época mesmo já escrevendo, o poeta ainda não tinha poemas publicados. Passou a escrever nos suplementos literários e nas revistas, entre outras a Agitação, De 1924 a 1925 foi, também, diretor da Revista do Norte. Nela trabalhou nas artes gráficas, fazia vinhetas sobre motivos regionais.

Frequentava um café na Rua Sete de Setembro, com os colegas Osório Borba, Ascenso Ferreira, Luiz Jardim. Com Ascenso, faria diversas viagens, uma delas a Palmares. Mais tarde, o grupo passaria a freqüentar o Café Continental, na Rua do Imperador.

Depois conheceria no Diário de Pernambuco Gilberto Freyre
 

Em 1937 foi professor da Escola de Engenharia, e um dos fundadores da Escola de Belas Artes.

Em 1938, foi à Europa e visitou Portugal, França e Espanha

Em 1939, paraninfou a turma da Escola de Engenharia de Pernambuco.

Em novembro de 1940 foi trabalhar ao Rio com Rodrigo de Melo Franco no Serviço do Patrimônio. Em 1941, foi convidado por Oscar Niemeyer para fazer alguns trabalhos na Pampulha, e desde então colaborou com regularidade a seu lado.

O seu primeiro livro – Poemas, editado pela Agir em 1947, e a que edita todo o seu trabalho de 1925 até aquele ano, foi publicado por iniciativa dos amigos, Eustáquio Duarte, Luís jardim, João Cabral de Melo Neto e Evaldo Coutinho, O segundo, Prelúdio e Elegia de uma Despedida, edição limitada em 1952. Em 1960 publica pela “Livros de Portugal” a sua última coletânea – Signo Estrelado.

“são por vezes a poesia quase, tal como qualquer um de nós, oficial do mesmo ofício, amadores ou leitores, desejaria fazê-la”, Carlos Drummond de Andrade –

 

Poema desse volume – “Congresso dos Ventos”, onde Jorge Amado foi buscar isnpiração para sua última obra: “Os velhos marinheiros”.

Suas leituras preferidas, a matemática (pura e aplicada), a física e a literatura em geral.

Rilke, Drummond, Bandeira, José Lins do Rego e Gilberto Freire. Wassermann, Tolstoi e Dostoiewski. Eça de Queiroz e, principalmente, Machado de Assis.
 

 

Aquarela

Macaíbeiras chovendo
Cheiro de flor amarela;
Cheiro de chão que amanhece.
Estavas sob a latada
Quando te abri a janela.

Cheiro de jasmim laranja
Pelos jardins anoitece;
Junto a papoulas dobradas,
Num canteiro florescendo,
A tua saia singela.

Macaíbeiras chovendo
Cheiro de flor amarela...

Não sei se és tu, se eras outra,
Não sei se és esta ou aquela,
A que não quis nem me quer,
Fugindo sob a latada
Nessa tarde de aquarela.

Macaíbeiras chovendo
Cheiro de flor amarela...
 

 

As Alvarengas

"Tous les chemins vont vers la ville”
Verhaeren


As alvarengas!
Ei-las que vão e vem; outras paradas,
Imóveis. O ar silêncio. Azul céu, suavemente.
Na tarde sombra o velho cais do Apolo.
O sol das cinco ascende um farol no zimbório
Da Assembléia.
As alvarengas!
Madalena. Deus te guie, flor de Zongue.
Negros curvando os dorsos nus
Impelem-nas ligeiras.
Vem de longe, dos campos saqueados.
Onde é tenaz a luta entre o Homem e a Terra.
Trazendo, nos bojos negros.
Para a cidade.
A ignota riqueza que o solo vencido abandona.
O latente rumor das florestas despedaçadas.

A cidade voragem.
É o Moloch, é o abismo, é a caldeira...
Além, pelo ar distante e sobre as casas.
As chaminés fumegam e o vento alonga.
O passo de parafuso.
E lentas.
Vão seguindo, negras, jogando, cansadas;
E seguindo-as também, em curvas n’água propagadas.
A dor da terra, o clamor das raízes.

 

 

Tarde no Recife

Tarde no Recife.
Da ponta Maurício o céu e a cidade.
Fachada verde do Café Máxime.
Cais do Abacaxi. Gameleiras.
Da torre do Telégrafo Ótico
A voz colorida das bandeiras anuncia
Que vapores entraram no horizonte.

Tanta gente apressada, tanta mulher bonita.
A tagarelice dos bondes e dos automóveis.
Um carreto gritando — alerta!
Algazarra, Seis horas. Os sinos.

Recife romântico dos crepúsculos das pontes.
Dos longos crepúsculos que assistiram à passagem
[dos fidalgos holandeses.
Que assistem agora ao mar, inerte das ruas tumultuosas,
Que assistirão mais tarde à passagem de aviões para as costas
[do Pacífico.
Recife romântico dos crepúsculos das pontes.
E da beleza católica do rio.

 

Fonte

https://www.jornaldepoesia.jor.br/jcardoso4.html

Renard Perez


 

 

Pesquisa e comentários

Luis Eduardo Garcia Aguiar

Publicado em 09/03/2014

 

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