Reprise - por Maria Estela Ximenes

REPRISE  
  
Outro dia,  ouvi uma entrevista de um artista famoso onde ele dizia que no auge dos seus 80 anos, o que mais lhe dava  nostalgia eram as boas lembranças que teve: de um flerte proibido,  uma caminhada na trilha, o primeiro salário, um abraço que o deixou sem fôlego, entre tantos outros prazeres que viveu. Dizia ainda, que se  sentia feliz por  estar vivo, mas ciente   que futuramente,  só haveriam flashes daqueles tempos.
De fato, deveria existir uma alameda onde a pessoa  pudesse percorrer  e repetir todos os momentos felizes do  passado, uma reprise.
Ao contrário das más lembranças, cujo desejo de volta é inexistente, as  boas lembranças são um antídoto para a alma. Lembrança de um cheiro, uma canção, um nascimento, um adeus.
Felizes lembranças, de um tempo distante, altamente almejado.
Mas as  boas lembranças  se tornam cruéis ao longo  do tempo, porque transformam numa  dança sem reprise, como um único   suspiro, uma estrela passeando  no cérebro. Penetra no inconsciente, fazendo a pessoa repetir constantemente os fatos vividos,   como se estivessem ocorrendo  no exato segundo. Incomodam como um inseto  persistindo  a sua presa, e  por mais que se  tente afastar, permanece o eco nas horas mais inusitadas do  dia.
Não é  estranho   alguém   desejar   ansiosamente a visita do esquecimento, tentar  esquecer as boas lembranças, aguardar  que elas possam se  alojar em um  cômodo,   portas se fecham e   chaves se percam.Se conformar com a ausência do retorno. 
Talvez seja isso que o artista quisesse dizer sobre a nostalgia das boas lembranças. Felizes lembranças que  umedecem  os olhos.  
 
 
 
 

 

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