Um poema, uma eleição - por Maria Estela Ximenes

Um poema, uma eleição - por Maria Estela Ximenes

UM POEMA, UMA ELEIÇÃO

 

Tenho guardado não lembro exatamente onde,  uma nota de cinquenta cruzados novos, datada de 1990. Guardei essa nota até hoje não por ser  colecionadora de notas, mas  porque apreciava a  homenagem que a Casa da Moeda fez ao poeta Carlos Drummond de Andrade, imprimindo no verso da nota o seu poema.  “Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças”; era  um dos versos do poema, no qual eu lia e relia, achando-o encantador.

Recentemente, recordei esse verso  por ocasião das  manifestações ocorridas em torno do resultado das eleições para presidente do país.

Pensei nos ruídos dos homens que estavam “acordados” na tentativa de apoiarem  suas crenças e opiniões politicas. Quantos homens acordados estiveram confiantes de que o seu discurso e o resultado dele seria decisivo no momento do  voto?

Comparei as diferenças entre uma frase poética e uma eleição, mesmo ciente  da realidade distinta entre ambas. Versos não saciam o estômago, não oferece um teto para morar, tampouco vestem  alguém.

Poesia combina com sensações, com humores, com amor, alegria, tristeza. Eleição  deveria combinar com   responsabilidade, justiça, ética, consciência. E por mais que a poesia pareça abstrata, traduz as inquietações dos homens  sem contaminá-los – não há  disputa nem corrupção de palavras no caminho  dos  versos.

Poesia emociona , eleição estressa. Poesia  dialoga com as palavras, eleição  deturpa-as. Poesia  traduz  os sentimentos do leitor. Eleição  escraviza os homens,  submetendo-os  a  um desgaste contínuo.

Ninguém vai bater na porta  do autor da poesia,  exigindo que ele cumpra   o que escreveu. Ingenuidade é  supor que uma única opinião é soberana,  capaz  de definir   todo um processo,  100% nunca coube dentro de uma realidade. E toda ação politica  nada mais é do que a transferência  de planos e projetos positivos ou negativos dentro de diferentes contextos.

Mas quando  se acende um palito de fósforo, mesmo  que ele queime até o fim, ainda é possível reacender a  chama – chama esta que me faz retornar o verso de Drummond:   “acordar os homens”.

Que os homens  estejam despertos para um novo olhar, uma nova reflexão, uma nova atitude, uma nova crítica, uma nova derrota, uma nova postura e um novo bem comum.

 

 

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